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sábado, 29 de julho de 2017


. . . AS RUAS DA CIDADE . . .
 

No concelho de Fafe, a freguesia de Santa Eulália de Fafe reunia condições de edificação de uma urbe, uma vez que se localizava num local que era já um espaço administrativo, onde se situava a sede de concelho e por onde se processava passagem de pessoas e mercadoriais do Interior-Litoral.
Assim, a cidade, no séc.XIX, foi o produto da afirmação política do liberalismo e das condicionantes económicas, sociais e políticas, com reflexos na expansão económica verificada na segunda metade do século.
Simultaneamente, o sucesso dos nossos emigrantes no Brasil levou-os a edificarem neste local as suas habitações, definindo uma estrutura urbana de novas ruas e praças, à imagem das que conheceram do outro lado do Atlântico e que lhes deu a fortuna.
Deste modo, num sítio onde havia uma só rua que ligava Guimarães a Cavês, os «brasileiros» implantam praças e pracetas, introduzindo na cidade todas as componentes caracterizadoras da vivência social burguesa e capitalista.
É assim que a sua Casa, o Clube, o Teatro, o Passeio Público surgem como símbolos do seu poder e estatuto económico e social. Ao mesmo tempo, os avultados investimentos que fizeram na aquisição de quintas e na indústria têxtil confirmam estes burgueses como um novo grupo social de grande prestígio local.
Paralelamente, por sua exclusiva iniciativa, fazem inserir no espaço urbano outras representações simbólicas da vivência burguesa que se afirma através dos actos de filantropia, tais como a construção dos Asilos de Inválidos, da Infância Desvalida e do Hospital de São José.
Esta atitude surge como uma novo comportamento social, oposto às tradicionais relações de solidariedade comunitária tradicional, tipicamente agrária, de onde eram provenientes, e através da qual os «brasileiros» se distinguem e afirmam como parte de uma nova classe social: a burguesia.
Simultaneamente, participam na criação das primeiras agremiações de interesse social, nomeadamente a Irmandade de São José, administradora do Hospital e Bombeiros Voluntários, bem como dispensam grandes donativos para a construção da Igreja Nova de São José.
O Clube Fafense e o Cine -Teatro completam, na época, os elementos de cultura necessários a este grupo social formado por emigrantes do Brasil, que se destacaram do conjunto da população rural local.
A Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (Fábrica do Ferro), fundada em 1886 e a Fábrica Têxtil do Bugio, fundada em 1873, funcionaram como atractivos de população e quadros para a Vila, sendo da sua iniciativa a construção dos Bairros operários de Antime e de São José, no conjunto de outras iniciativas de carácter social ligadas aos liberalismo económico.
A Fábrica Fafense de Gasosas, Refrigerantes e Laranjadas - Santo Ovídio (c.1918) e a Fábrica de Papel (c.1930), em Cavadas, corporizaram ainda as iniciativas industriais mais significativas.
Por seu turno, a Praça da Feira Velha adquire, nesta altura, uma configuração ortogonal e estrutura-se a Praça José Florêncio Soares, onde vão surgir o Hospital, a Igreja Nova de São José e a Cadeia.
Constrói-se o Jardim Público (1892) e abrem-se as ruas a ele adjacentes, onde vão surgir edifícios particulares.
A construção do Caminho de Ferro e Estação, em 1907 e a abertura da Rua 5 de Outubro, obrigando à demolição da capela de Santa Luzia, localizada na entrada da rua, complementam as vias estruturantes da vila do século XIX, as quais se mantêm até à primeira metade deste século.
A actual Praça 25 de Abril vê surgir, em 1838, o Cais da Arcada, sendo libertada, em 1912, de um conjunto de edifícios públicos e particulares aí existentes, desde o século XVIII e inícios do XIX.
Estes imóveis, perturbando a ideia de um espaço cívico, que se desejava espaçoso e burguês, são demolidos para dar lugar à actual Praça central de Fafe, construindo-se um novo edifício para a Câmara Municipal (1913), na Avenida 5 de Outubro.
Nestas ruas, praças e pracetas são implantados os equipamentos públicos, sociais e culturais necessários à urbe.
A cidade criada pela sua localização de passagem ou ligação ao interior, adquire uma função turística, em tempo de capitalismo burguês, com a construção de um elevado número de hotéis e hospedarias.
Nos finais deste século, integradas na política de desenvolvimento viário designada por Fontismo, foram construídas as pontes novas de São José, da Ranha e de Golães, desviando os acessos à cidade.

Mas Fafe é, ainda hoje, um local de passagem com destinos que ligam o litoral à Europa.

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