Ducado de Castro
A
criação
O ducado de Castro
e de Ronciglione foi criado pelo papa Paulo III, da família Farnésio
(1534-1549), pela bula Videlicet immeriti
de 31 de outubro de 1537, para consolidar as possessões da sua
família e beneficiar o seu filho Pedro Luís Farnésio (Pier
Luigi Farnese) e a sua descendência masculina. O ducado teve uma existência
breve, de pouco mais de 110 anos, e foi eclipsado pelas outras possessões que
os Farnésio detinham na região de Parma.
As
fronteiras
O ducado de Castro
estendia-se do mar Tirreno até ao lago Bolsena, numa faixa de terra delimitada pelos rios Marta e Fiora, indo pelo seu
afluente Olpetae até o lago de Mezzano.
O ducado de Latera e o condado de Ronciglione estavam incluídos neste ducado.
O ducado de Castro
compreendia as seguintes localidades atuais: Castro (que pela sua posição estratégica torna-se na capital),
Montalto, Musignano, Ponte della
Badia, Canino, Cellere, Pianiano, Arlena, Tessennano, Piansano, Valentano, Ischia, Gradoli, Grotte, Borghetto, Bisenzio, Capodimonte, Marta, ilhas de Bisentina e Martana, Ronciglione, Caprarola, Nepi, Carbognano, Fabrica di Roma, Canepina, Vallerano, Vignanello, Corchiano et Castel Sant'Elia.
Castro,
capital do ducado
Castro era a
capital e a residência do duque. Trata-se de uma antiga cidade nas proximidades
do rio Fiora e que se
situa no coração da Etrúria meridional, na Maremma do Lácio, hoje localizada no território da comuna de Ischia di Castro, Província de Viterbo. Foi
destruída em 1649, após o cerco e deportação dos seus habitantes.
Suas origens
remontam à pré-história, tendo sido encontrados
vestígios nas localidades de Chiusa del
Vescovo e de Infernaccio. Os
etruscos acabam por aí instalar uma cidade, talvez Statonia. Foram encontradas necrópoles, com numerosas
esculturas, como a Tomba della Biga, descoberta por arqueólogos belgas
em 1967.
Na Idade Média, o castelo pertenceu a uma mulher e, por essa
situação singular, é-lhe dado o nome de Castrum Felicitatis. A
localidade vai crescendo tornando-se numa cidade que obtém certa autonomia
comunal sob a autoridade papal que a defendeu dos senhores toscanos e ametinos.
Em 1527, uma
rebelião liderada por Antonio Scaramiccia e Giacomo (Jacopo) Caronio tenta
tomar o poder e organiza um golpe de estado. É solicitada a protecção a Pedro Luís Farnésio que
entra pacificamente na cidade, sendo bem acolhido pelos habitantes. Clemente VII, obrigado a
refugiar-se em Orvieto por causa do saque de Roma realizado
pelos lansquenete, descobre então a situação e ordena a Pedro Luís
que abandone Castro e, de imediato, o papa solicita a Gian Galeazzo Farnésio,
primo de Pedro Luís e senhor de Latera, de infligir uma punição exemplar
aos habitantes de Castro.[1] · [2]
Na madrugada de 28
de dezembro, que por ironia é o dia dedicado a São Inocêncio, Gian Galeazzo entra
na cidade e saqueia Castro. O saque é descrito em 1575 pelo notário Domenico
Angeli, habitante de Castro em De Depraedatione Castrensium et suae Patriae
Historia. Gian Galeazzo consegue entrar em Castro pela porta de Santa Maria
que os habitantes utilizavam para se reabastecerem de água.
Quando, em 31 de
outubro de 1537, a cidade passa para as mãos dos Farnésio, Castro acrescenta às
suas armas os símbolos dessa família compostos por um leão rompante, de três
flores de lis azuis e da divisa “Castrum Civitas Fidelis”. O saque de
Gian Galeazzo Farnésio, que obrigou muitos habitantes a fugir, reduz a cidade a
uma pequena vila pobre e são os Farnésio, ajudados por Antonio da Sangallo, o
Jovem, que reconstroem completamente Castro, adicionando fortificações,
palácios, estradas, casas, tornando-a num enorme estaleiro que, pouco a pouco,
se transforma numa esplêndida cidade renascentista. Os Farnésio introduzem
também a sua própria moeda.
A
cidade de Castro
Muitos visitantes
de Castro, entre os quais o historiador e homem de letras Annibale Caro, ficam sensibilizados pela beleza da cidade
deixando descrições detalhadas. A cidade situa-se no cimo de uma colina sendo
necessário atravessar uma ponte de dois arcos para aceder à cidade. O seu
coração é ocupado pela Piazza Maggiore onde, para além do fontanário no
seu centro, encontra-se também o palácio da moeda e a "hostaria"
(chamada pelos habitantes, Palazzo del Duca in Piazza) cuja função é
albergar os hóspedes do duque. Na praça e nas ruas circundantes encontram-se
também os palácios dos cidadãos mais importantes. Os planos do palácio ducal,
realizado por Giuliano da Sangallo e
conservado em Florença, mostram um palácio de estilo
meia-fortaleza seiscentista e meio-palácio de luxo setecentista. Castro dispõe
de estradas e palácios de tijolos o que é particularmente raro no século XVI.
Castro dispunha de
treze igrejas de acordo com documentos da cúria, sendo a sede da diocese a
catedral de S. Savino, protector da cidade, celebrado dia 3 de maio. A catedral
é em estilo românico e foi consagrada em 29 de abril de 1286 como indica uma
placa colocada na fachada da catedral, que regista a consagração pelo bispo de
Castro, São Bernardo da Bagnoregio e por doze outros prelados. À proximidade du
mur d'enceinte, encontra-se a igreja medieval de São Pancrácio construída pelos habitantes
de Vulcos após a destruição da sua cidade pelos sarracenos, o que
os obrigou a instalar-se em Castro. As outras igrejas são a igreja de la
Madonna della Viola (residência do bispo antes da construção da catedral), San
Bernado Abate, Santa Lucia, San Sabastiano, La Madonna del Camine (construída
por um militar em cumprimento de um voto); fora da cidade e próxima do
cemitério, Santa Maria dei Servi. A igreja de San Giovanni está associada ao
hospital administrado pela dita confraria, da qual um dos seus membros laicos,
Luciani Silvestri, realizou, por sua conta, um hospício para viúvas e órfãos.
Na localidade de Prato Cotone,
próxima da confluência do Olpeta no Flora, é edificado, de acordo com os planos
de Sangallo, a igreja e o mosteiro franciscano, ordem que veio para Castro a
convite do duque.
Sangallo concebeu
as muralhas defensivas da cidade cuja entrada principal, denominada porta
Lamberta, em forma de arco do triunfo, mostra os episódios mais gloriosos da
família Farnésio.
Castro dispõe de
um poço idêntico ao de San Patrizio em Orvieto, dito "poço de Santa Lucia" dada a
proximidade da igreja do mesmo nome, e que substitui a fonte de abastecimento
da porta Santa Maria, principal entrada em Castro.
Lista
dos duques de Castro
Pedro Luís Farnésio
Por Ticiano (c. 1546)
Museu de Capodimonte, Nápoles
- Pedro Luís Farnésio (Pier
Luigi Farnese), filho do Papa Paulo III – duque de 1537 a 1545;
- Octávio Farnésio (Ottavio
Farnese), filho primogénito do anterior – duque de 1545 a 1547 e de
1553 a 1586
- Horácio Farnésio (Orazio
Farnese), irmão mais novo do anterior – duque de 1547 a 1553
- Alexandre
Farnésio (Alessandro Farnese), filho primogénito de
Octávio – duque de 1586 a 1592
- Rainúncio I (Ranuccio
I Farnese), filho primogénito de Alexandre e da infanta Maria de Portugal – duque de 1592-1622 (candidato ao
trono de Portugal em 1580)
- Eduardo I (Odoardo
I Farnese), filho primogénito de Rainúncio I – duque de 1622 a 1646
- Rainúncio II (Ranuccio
II Farnese), filho primogénito de Eduardo I – duque de 1646 a 1649
O
declínio do ducado
Após a criação do ducado de Parma e Placência
em 1545, os Farnésio partilham a sua actividade, durante uma dezena de anos,
entre o primeiro e o novo ducado.
Ao tornar-se duque
de Parma, Pedro Luís cede Castro a seu filho Octávio Farnésio e, por
sua vez, após a trágica morte de Pedro Luís, Castro passa para seu irmão mais
novo, Horácio Farnésio. Horácio
morre sem descendência, pelo que o ducado de Castro volta a Octávio.
Com a morte de
Octávio, o ducado passa a seu filho Alexandre Farnésio
que nunca visita o seu estado uma vez vive no norte da Europa, assumindo
periodicamente o cargo de governador dos Países Baixos espanhóis.
O declínio do
ducado inicia-se com Ranúncio I Farnésio, filho
de Alexandre, que herda uma situação financeira catastrófica.
O seu sucessor, Eduardo I Farnésio não
procura sanar a situação, pelo contrário, declara a guerra à Espanha sem sequer advertir o papa Urbano VIII que consegue, entretanto, regularizar a crise
através dos canais diplomáticos. Estas más escolhas políticas enfraquecem ainda
mais a sua posição financeira, pelo que hipoteca o ducado e obtém um empréstimo
de Urbano VIII.
A importância
estratégica dos territórios do ducado que se encontram muito próximos aos Estados Pontifícios fazem
com que o papa acentue a pressão sobre os Farnésio incapazes de honrar as suas
dívidas.
Guerras
de Castro
Mapa da Itália Central, estando o Ducado de
Castro assinalado a tracejado castanho sobre fundo amarelo (canto
inferior direito)
A
primeira guerra de Castro
As causas
longínquas da primeira guerra de Castro encontram-se na política expansionista
da família Barberini que encontram, no seu caminho, Eduardo Farnésio.
Usando como pretexto a posição do ducado Castro, criado em parte em territórios
do património de São Pedro, Urbano VIII, de seu nome Maffeo Barberini, de conivência com os seus dois sobrinhos, os
cardeais Francesco Barberini
e Antonio Barberini, decide
subtrair aos Farnésio os privilégios e as possessões que a família dispunha já
há muitos séculos. Após terem tentado a compra do ducado, os dois irmãos
procuram outros meios para colocar em dificuldade Eduardo.
Em 1639,
os banqueiros Siri e Sacchetti e o prefeito de Roma Taddeo Barberini, sobrinho do papa,
denunciam os lucros os lucros obtidos pelo ducado de Castro, batendo-se pela
redução do preço dos cereais e negam a Eduardo os ganhos acordados o que coloca
o duque numa situação delicada: os credores que lhe haviam concedido
empréstimos em função de rendas futuras do ducado, reclamam o seu dinheiro.
Dois decretos do camerlengo, o cardeal Antonio Barberini,
agravam a situação do duque: primeiro, a interdição de extracção de cereais,
privilégio obtido há muito da Santa Sé; depois, a construção duma estrada de Sutri até Roma
para absorver o tráfico que anteriormente passava por Ronciglione (1641).
Apesar das
tentativas de Eduardo de ultrapassar as suas dificuldades, os Barberini não
cedem e até tomam como pretexto a possível falência dos Farnésio para ocupar o
ducado e sequestrar os seus bens localizados no Estado Pontifício.
A ocupação do
ducado de Castro pelas tropas pontifícias inicia-se em 27 de setembro de 1641.
As tropas dos Farnésio reagem, entrando nos Estados da Igreja tomando a cidade
de Acquapendente fazendo crer que estaria iminente um novo Saque
de Roma. A primeira parte da guerra conclui-se com a negociação dum tratado de
paz em Castel Giorgio que prevê a
retirada das forças ducais. As negociações malograram-se em 26 de outubro de
1642 e Eduardo perde o avanço nos territórios pontifícios a favor dos Barberini
que, entretanto, organizaram as suas defesas.
Eduardo tenta
reconquistar Castro com expedições militares terrestres e marítimas, o que leva
à segunda fase do conflito: é criada uma liga entre Fernando II de Médici, grão-duque da Toscana, a República de Veneza e Francisco I d'Este, duque de Módena, no
sentido de limitar as intenções expansionistas dos Barberini, incitando à
restituição do ducado ao legítimo proprietário. Os aliados, que até então
apenas haviam apoiado moralmente Eduardo, entram em guerra no início de 1643 e,
após uma grave derrota das tropas pontifícias na batalha de
Lagoscuro, a primeira guerra de Castro termina com o tratado de
Ferrara de 31 de março de 1644 que, graças à ajuda diplomática francesa,
restituiu o ducado aos Farnésio e os reconcilia com a Santa-Sé. O acordo é
selado, no ano seguinte, com a elevação do irmão de Eduardo, Francisco
Farnésio, à dignidade cardinalícia.
A
segunda guerra de Castro
Com a morte de
Eduardo (1646), o seu filho primogénito de 16 anos Rainúncio II Farnésio,
herda, para além de elevadas dívidas, as consequências de uma guerra acabada de
terminar. Enquanto decorrem as negociações entre o ducado e o papado para a
nomeação do novo bispo, o papa Urbano VIII morre. Sucede-lhe Giovanni Antonio
Facchinetti, que toma o nome de Inocêncio X (1644-1655), pertencente a uma família que
concedera elevados créditos aos Farnésio.
Em 17 de abril de
1648, o papa, sem consultar Rainúncio, nomeia bispo de Castro monsenhor Cristoforo Giarda. Rainúncio proíbe-lhe a entrada
até se concluir o acordo com Roma. Passa-se um ano sem que a seja possível
desbloquear a situação pelo que o papa ordena que o bispo tome posse da sua diocese. Em 18 de março de 1649, na estrada de Roma para
Castro, próximo de Monterosi, ele é vítima duma cilada.
Inocêncio X atribui imediatamente a responsabilidade da cilada a Rainúncio e
ordena ao governador de Viterbo, Giulio Spinola, de
instruir um processo para estabelecer a responsabilidade do homicídio, que
culmina com a decisão de atacar o ducado.
Pelas manobras da
família Barberini e de Olimpia Maidalchini, muito influente na política romana
do tempo, Inocêncio X declara guerra aos Farnésio. Nesse Verão, as tropas ducais são batidas na
Toscana, Castro é cercada, capitulando em 2 de setembro de 1649. O coronel
Sansone Asinelli, em nome do duque que entretanto se retirara para Parma, assina a capitulação.
Oito meses depois,
o papa ordenou a destruição total e todos os edifícios são completamente
arrasados incluindo a principal igreja. O duque Ranuccio, na impossibilidade de
regularizar as suas dívidas, aceitou a perda do ducado.
A
destruição
A sede do bispado
é transferida para Acquapendente.
Os tesouros
artísticos são cedidos a famílias nobres romanas, sendo conhecido o destino de
alguns: os sinos da catedral encontram-se hoje na igreja de Sant'Agnese,
em Roma, o simulacro de Maria Imaculada que se encontravam na catedral é
deslocado para uma igreja de Acquapendente.
No início de 1985,
o historiador Romualdo Luzi publicou na revista Barnabiti Studi o texto
inédito «Giornale» dell'Assedio, presa e demolizione di Castro (1649) dopo
l'assassinio del Vescovo barnabita Mons. Cristoforo Giarda.
O manuscrito
completado por informações preciosas e inéditas, presta informações raras
relativas a esse terrível ano para a marema lacial. A crónica, que se inicia em 1 de junho e
termina em 3 de dezembro, dá conta dos detalhes da demolição e do transporte da
artilharia e de "outras munições" para Civitavecchia .
"Qui
fu Castro"
No memorando
enviado por l'Em. Card. Barberini à la Sainteté de N.S. Pape Innocent X[3], faz-se menção duma inscrição: "foi dessiminado
sal e edificada uma pirâmide com a seguinte menção «Aqui foi Castro»[4]".
Na verdade, nunca
se encontrou rasto desse memorial.
O
milagre de Castro
Em 1649, quando os
soldados pontifícios destruíam activamente Castro, dois operários contaram que,
na tentativa de destruir uma pequena capela no lado oeste da cidade, os seus
braços foram paralisados por uma força misteriosa. Nessa capela estava pintado Jesus Cristo na cruz, a Virgem e Santo António. Os
operários que não conseguiram demolir com as picaretas, tentaram depois com
pólvora mas uma força misteriosa teria impedido a destruição da capela.
Acreditou-se que seria um milagre e, durante meses, os habitantes de Castro
dirigiram-se à capela para rezar e relembrar o amargo destino da sua cidade. Em
1655, o cardeal Spinosa ordenou a deslocação das pinturas para a sua residência
romana. Na manhã seguinte, as pinturas encontravam-se, de novo, na capela. A
Igreja reconheceu como miraculosos os factos de Castro e, em 1871, um santuário
foi ali construído.[carece de
fontes]
Tentativas
de recuperação e anexação ao Papado
Graças à ajuda do
rei de Espanha e do grão-duque da Toscana, por uma acta redigida em 19 de dezembro de 1649,
Rainúncio, reconheceu a impossibilidade de pagar as dívidas da família, cedendo
os bens e direitos sobre o ducado à Câmara Apostólica pelo montante 1.629.750
de Escudos. Por esse
documento, a Câmara Apostólica endossa
todas as dívidas dos Farnésio e concede ao duque a faculdade de reaquisição do
património caso reembolsasse o montante numa só vez num limite de tempo de oito
anos. O Palácio Farnésio em Roma e
a Villa Farnésio em
Caprarola são excluídos desse acordo.
No termo dos oito
anos, Rainúncio não consegue reunir a soma necessária pelo que Alexandre VII pela bula de
24 de janeiro de 1660 declara o ducado De non infeudandis, ou seja,
definitivamente reunido à Santa-Sé.
Graças à ajuda do
rei de França Luís XIV, em 1664, uma
prorrogação com a duração de oito anos foi de novo promulgada com a
possibilidade de realizar o pagamento em duas vezes mas, tendo em conta a
situação económica pouco desafogada da Casa de Farnésio, essa prorrogação verificou-se infrutífera.
O território do
pequeno estado foi, então, definitivamente incorporado na província pontifícia
do património de São Pedro.
Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ducado_de_Castro#