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sábado, 25 de março de 2023

 

A igreja mais antiga:

São Gonçalo

 

Se eu perguntar qual é, atualmente, o templo mais antigo da cidade de Conselheiro Lafaiete, muitas pessoas me responderiam logo ser a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Estariam dando uma resposta errada.

Por volta de 1720, um português, Manoel Pereira Brandão, veio para terras de Carijós (como era chamada na época a nossa cidade), aqui fundando sua fazenda. Alguns metros à frente da mesma, ergueu, primeiramente, uma ermida e, em 1726, conseguiu provisão para a capela dedicada a São Gonçalo. Como a família foi crescendo e também outras foram mudando para aquelas terras, ali se formou, com o tempo, uma localidade que, inicialmente, denominou-se São Gonçalo do Camapuã, passando, depois, a ser chamada de São Gonçalo do Brandão.

Em 1808, já em tempos da Real Villa de Queluz, foi feita, do lado direito, uma sacristia e, não sei se nessa época ou depois, a igreja foi aumentada.

Em 1815, outra novidade na pequena igreja. Havia um filho de Carijós, muito ilustre, o Cônego Doutor Francisco Pereira de Santa Apolônia, que era irmão do inconfidente Padre Fajardo. Muito culto, um dos maiores oradores do Arcebispado, foi Presidente da Junta Provisória do Estado, em 1822, Vice-Presidente e Presidente da Província de Minas Gerais, Chantre do Cabido de Mariana e, por alguns dias, governou o bispado de Mariana. Embora não residisse ali permanentemente, também tinha "sua residência no Largo da Matriz (atual praça Barão de Queluz), onde hoje fica o Fórum.

No ano acima citado, Santa Apolônia conseguiu a carta de alforria para Silvério Dias, um escravo de Ana Pulcheria de Queiroz, com a condição de que ele fizesse a talha dos altares do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade, na Matriz de Queluz, e os altares da igreja de São Gonçalo, então filial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e de uma outra cujo nome estamos tentando apurar. Já pensaram que fato belíssimo! Com quanto amor deve esse artista ter trabalhado, sabendo que aquela talha tão delicada e bela fazia parte do resgate de sua liberdade?

Durante muitos anos, a igrejinha abrigou os fiéis na prática do culto religioso, até que, já pertencendo à Paróquia de São Sebastião, sendo vigário, na época, o Monsenhor Antônio José Ferreira, foi construída uma nova igreja. O velho templo não foi destruído, ficando escondido atrás do novo, a ele se chegando através do cemitério. Já quase em ruínas, com a talha retirada do altar e guardada, ficou durante muitos anos.

Alguns anos atrás, passou a igreja de São Gonçalo a pertencer à Paróquia da Luz. Um belo dia, o povo de São Gonçalo procurou o vigário João Batista Barbosa pedindo que escrevesse uma carta para o Banco do Brasil solicitando patrocínio para a restauração da antiga igreja. Pedido atendido. A restauradora Maria Regina Reis Ramos, do Grupo de Oficina Restauro de Belo Horizonte, foi a responsável pelos trabalhos recuperando toda a delicadeza da talha e a pintura original, deixando como nova a igreja primitiva, do tamanho que tinha no século XVIII, apenas com o acréscimo da sacristia feito em princípios do século XIX.

Parabéns para o povo de São Gonçalo, de modo especial para aqueles que mais trabalharam para o sucesso do empreendimento!

A Matriz de Nossa Senhora da Conceição iniciou sua construção em 1732,assim, a Igreja de São Gonçalo (erecta em 1726, de acordo com o historiador Pe. José Duarte) é, atualmente, o mais antigo templo de Conselheiro Lafaiete, cremos que, até mesmo, o mais antigo monumento de nossa cidade.

 


 


 

 As colchas de São Gonçalo... na Europa!

 

Francisco de Paula Ferreira de Rezende foi juiz municipal de órfãos do termo de Queluz, para onde veio em 1857. Quando escreveu o livro "Minhas Recordações", nele focalizou, em alguns capítulos, o tempo que aqui passou. Entre vários relatos interessantes, encontramos, em sua obra, o seguinte trecho sobre nossa terra:

"Composto de campo e mato, a indústria do município em 1857 consistia: primeiro na criação de animais, sobretudo muarés, cujo preço era de 50$000 mais ou menos na idade de um a dois anos; segundo, na cultura da cana em ponto maior ou menor; e terceiro, finalmente, na de mantimentos, para a qual a mata era boa e os capões ainda melhores.

Queluz era, portanto, naquele tempo, [...] um dos melhores celeiros de Ouro Preto. Além dos tecidos de algodão para uso doméstico e que se encontravam por toda parte, havia na freguesia da vila uma fazenda ou um lugar chamado São Gonçalo onde se faziam umas colchas ou antes cobertores de lã, alguns dos quais tinham no centro as armas imperiais, obra tão bonita e tão perfeita que apesar de ser o seu custo de 50$000, não era fácil de obtê-los; visto que, além de serem muito procurados, sobretudo para presentes, na Corte e na província, até para a Europa, segundo depois vim a saber, alguns foram, por intermédio de minha sogra, para as nossas princesas que ali residiam ou para encomendas destas. "

 

Várias pessoas já me disseram terem visto uma dessas colchas, com o bordado das armas imperiais, exposta em uma vitrina no Museu de Ouro Preto.

Estão vendo como São Gonçalo do Brandão é importante? Recentemente foi lançado um livro muito interessante: "CAMINHOS DO CERRADO - A trajetória da Família Pereira Brandão", escrito por José Américo Ribeiro, Eduardo Carvalho Brandão e Olímpio Garcia Brandão, descendentes do Manoel Pereira Brandão.

A obra, em formato grande e com 561 páginas, grande também na essência, focaliza a genealogia do varão português, filho de Lucas Pereira e Maria Brandão, que chegou a Carijós por volta de 1720, casado com Jerônima do Pinho, filha de Estevão João e Maria Tavares, trazendo os filhos Manoel, Darniana Roza de São José, João, Alexandre, Theodósio (antepassado dos autores) e Roza Maria de São José. Vieram eles da freguezia de São Miguel de Ürrô, Concelho de Arouca, bispado de Lamego, distrito de Aveiro, em Portugal, desenvolvendo, de modo detalhado e extenso, a descendência de Theodósio, que é a linha direta de parentesco deles. Esse trabalho é feito de maneira muito atraente pela quantidade de fotos e de fatos acontecidos com membros da família.

A ilustração do livro é farta, inclusive com um mapa de Queluz, desenhos e fotos de nossa terra, como da antiga igreja, quase em ruínas (agora totalmente recuperada), da igreja nova de São Gonçalo, da gravura do movimento de 1842 em Queluz e da nota de 100 cruzeiros em homenagem ao Duque de Caxias, focalizando (vejam só que homenagem!...) a batalha de Queluz, onde a tropa de Caxias foi derrotada. Quando descobriram o desagradável deslize, logo depois de lançada, foi retirada de circulação. Há uma nota dessas no Museu e Arquivo Antônio Perdigão.

No anexo I, vem um estudo feito pelo historiador lafaietense Allex Assis Milagre sobre os demais filhos de Manoel Pereira Brandão, destacando a importância “desse clã que teve participação destacada na vida social, política, artística e cultural desta terra ".

 

 

Homenagem a saudosa 

Avelina Maria Noronha de Almeida



 

 

 

 

 

 

Fonte: Garimpando no Arquivo Jair Noronha

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