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sábado, 29 de julho de 2017

VISITA A FAFE - SUGESTÕES PARA UM OLHAR

 Miguel Monteiro
Coordenador do Museu da Emigração
e das Comunidades (Fafe)





Nas caminhadas de hoje, as cidades perdem-se por entre imagens cinzentas dos novos objectos urbanos disformes, dos ruídos e dos fumos. Ao lado, ficam os lugares suaves e adormecidos do passado.
Por caminhos abandonados, repousam, ignorados, os pequenos recantos onde assenta a memória e a alma dos que os habitaram.
Relembre a antiga chegada a Fafe, pela velha ponte românica de Bouças e observe o que resta, em ruínas, da capela de Santo André, mesmo ao lado do que foi uma gafaria.
Lembre, deste modo, o tempo de uma caridade prestada aos que, por serem excluídos, recolhiam esmolas dos peregrinos, neste itinerário de assistência medieval.
No culto ao Santo, recorde o que foi a crença no mito da passagem e da importância dos barqueiros de almas que lhe surgem sempre junto às pontes, como a de São José, no Lombo.
Suba, vagarosamente, pela calçada de Bouças e Fafoa, sentindo em cada passo a caminhada dos peregrinos, como quem volta à Idade Média, em regressos do santuário da Nossa Senhora da Oliveira, onde D. João I também peregrinou, depois de Aljubarrota.
Ouvem-se, ainda, nas pedras gastas, o trote de cavalos senhoriais, com a obrigação de irem defender o castelo de Guimarães…
Veja o que foram as vénias em oração, nas alminhas do Senhor do Bonfim, com data de 1778 e reconheça o desenho do remate da Matriz de Fafe com data de 1779, como quem antecipa o projecto desta Igreja.
Olhe, ao lado, as casas de proprietário, como a de 1720, majestosas, junto àquela antiga via com dignidades pré-urbanas que foi a entrada na cidade, na rua Luís de Camões ou Rua da Baixa.
Surpreenda-se com a entrada na cidade. Nela ainda são visíveis alguns requintes arquitectónicos de uma cidade de porcelana e outros símbolos burgueses do século XIX, onde palácios, casas apalaçadas e palacetes estruturaram uma vila de “Brasileiros” de torna viagem.
Vá ao Jardim do Calvário. Sentir-se-á no altar silencioso de Fafe. Uma vez aí, tente percorrer, em círculo, as serras de Fafe, desenhando o território de Monte Longo.
Demore-se neste Jardim. Sentado num dos seus bancos, olhe a serra da Lameira e sentir-se-á num local sagrado de Mons Longus, numa desaparecida capela onde se rezaram ladaínhas demoradas, num resto do que foi uma terra airosa, que noutros tempos foi desenhada a ocres por emigrantes do Brasil.
Olhe a Praça 25 de Abril, local eleito para a representação de sonhos e suores equatoriais, de jardins e palmeiras que preencheram o antigo jardim da Queimada.
Delicie-se com a vitela assada, ancestral petisco de viajantes a cavalo que se dirigiam para o interior, nos trajectos que seguiam também para Castela, mas não ponha de lado o paladar das cavacas e pão de ló, como expressão de um luxo próprio de viajantes.
Suspenda a sua viagem na descoberta da rua da Baixa onde vielas lembram o que foi a primeira tentativa de configuração urbana local e não se esqueça das festas que em Julho acontecem em honra da Senhora de Antime. Nessa altura, mergulhará na magia máscula de uma festa realizada há milénios, e descobrirá um culto de masculinos dirigido ao senhor do Sol, que dá sentido à expressão: “eu para casar não precisei de carregar o andor da senhora de Antime!”.



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