VISITA A FAFE - SUGESTÕES PARA UM OLHAR
Miguel
Monteiro
Coordenador
do Museu da Emigração
e das
Comunidades (Fafe)
Nas caminhadas de hoje, as cidades perdem-se por
entre imagens cinzentas dos novos objectos urbanos disformes, dos ruídos e dos
fumos. Ao lado, ficam os lugares suaves e adormecidos do passado.
Por caminhos abandonados, repousam, ignorados, os
pequenos recantos onde assenta a memória e a alma dos que os habitaram.
Relembre a antiga chegada a Fafe, pela velha ponte
românica de Bouças e observe o que resta, em ruínas, da capela de Santo André,
mesmo ao lado do que foi uma gafaria.
Lembre, deste modo, o tempo de uma caridade
prestada aos que, por serem excluídos, recolhiam esmolas dos peregrinos, neste
itinerário de assistência medieval.
No culto ao Santo, recorde o que foi a crença no
mito da passagem e da importância dos barqueiros de almas que lhe surgem sempre
junto às pontes, como a de São José, no Lombo.
Suba, vagarosamente, pela calçada de Bouças e
Fafoa, sentindo em cada passo a caminhada dos peregrinos, como quem volta à
Idade Média, em regressos do santuário da Nossa Senhora da Oliveira, onde D.
João I também peregrinou, depois de Aljubarrota.
Ouvem-se, ainda, nas pedras gastas, o trote de
cavalos senhoriais, com a obrigação de irem defender o castelo de Guimarães…
Veja o que foram as vénias em oração, nas alminhas
do Senhor do Bonfim, com data de 1778 e reconheça o desenho do remate da Matriz
de Fafe com data de 1779, como quem antecipa o projecto desta Igreja.
Olhe, ao lado, as casas de proprietário, como a de
1720, majestosas, junto àquela antiga via com dignidades pré-urbanas que foi a
entrada na cidade, na rua Luís de Camões ou Rua da Baixa.
Surpreenda-se com a entrada na cidade. Nela ainda
são visíveis alguns requintes arquitectónicos de uma cidade de porcelana e
outros símbolos burgueses do século XIX, onde palácios, casas apalaçadas e
palacetes estruturaram uma vila de “Brasileiros” de torna viagem.
Vá ao Jardim do Calvário. Sentir-se-á no altar
silencioso de Fafe. Uma vez aí, tente percorrer, em círculo, as serras de Fafe,
desenhando o território de Monte Longo.
Demore-se neste Jardim. Sentado num dos seus
bancos, olhe a serra da Lameira e sentir-se-á num local sagrado de Mons
Longus, numa desaparecida capela onde se rezaram ladaínhas demoradas, num
resto do que foi uma terra airosa, que noutros tempos foi desenhada a ocres por
emigrantes do Brasil.
Olhe a Praça 25 de Abril, local eleito para a
representação de sonhos e suores equatoriais, de jardins e palmeiras que
preencheram o antigo jardim da Queimada.
Delicie-se com a vitela assada, ancestral petisco
de viajantes a cavalo que se dirigiam para o interior, nos trajectos que
seguiam também para Castela, mas não ponha de lado o paladar das cavacas e pão
de ló, como expressão de um luxo próprio de viajantes.
Suspenda a sua viagem na descoberta da rua da Baixa
onde vielas lembram o que foi a primeira tentativa de configuração urbana local
e não se esqueça das festas que em Julho acontecem em honra da Senhora de
Antime. Nessa altura, mergulhará na magia máscula de uma festa realizada há
milénios, e descobrirá um culto de masculinos dirigido ao senhor do Sol, que dá
sentido à expressão: “eu para casar não precisei de carregar o andor da
senhora de Antime!”.
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