. . . O PASSADO. . .
O passado não se representa aqui em grandiosos
monumentos, mas em materialidades simbólicas sóbrias, dispersas, ameaçadas e
algumas desaparecidas.
Olhemos velhos sítios onde estes vestígios nos
relembram vivências culturais ignoradas…
Nos montes de São Jorge e da Cumieira, mamoas
confirmam a presença de povos muito antigos, ligados a uma primitiva vida
agro-pastoril, que fizeram das suas sepulturas os símbolos da perenidade e de
engrandecimento da sua existência.
Não deixe de ir ao lugar designado por Monte das
Freiras, como topónimo que remete para lendas, como a hipotética existência de
um mosteiro feminino que a História não confirma. Contudo, aí encontrará os
vestígios de construções, as quais dariam trabalho aos arqueólogos e, a si, uma
das melhor das vistas das terras de Monte Longo.
Mais abaixo, uma visita ao Castro de Santo Ovídio
oferece-lhe a possibilidade de conhecer um povoado do Séc. I a.C. com
demonstrados contactos com os Romanos invasores e que a Unidade de Arquiologia
da Universidade de Minho tem como objecto de estudo.
Dos seus habitantes restaram um conjunto de
vestígios materiais que se encontram no Museu D. Diogo de Sousa e uma estátua
de Guerreiro Luso-Galaico, que aí foi encontrada em 1870, quando se faziam os
alicerces da Capela de Santo Ovídio, e que foi adquirida em 1876 pela Sociedade
Martins Sarmento, onde ainda hoje se encontra.
Com a apropriação do vale, durante a romanização e
Alta Idade Média, surgiram os povoados ribeirinhos, tendo os seus habitantes
encontrado refúgio temporário no monte de Castelhão e São Jorge, onde
construíram provisórias fortificações em tempo de grande instabilidade
administrativa.
Da Baixa Idade Média temos as primeiras e
documentadas notícias de mosteiros e senhores que tutelaram o povoamento e
administração local: do Mosteiro de Antime de 1120 e de um outro, no lugar da
Matriz, fundado por um fidalgo de apelido "Fafez" com solar situado nas
proximidades, que foi extinto para se unir ao de Santa Marinha da Costa,
passando a ser tutelado por esta entidade religiosa e senhorial.
«Santa Eulália, foi Mosteiro, não alcançamos de que
Ordem, entendemos que foi fundado por algum fidalgo dos do apelido Fafez;
porque dizem ser este o solar desta família, e que daqui foi senhor Dom Godinho
Fafes, filho de Dom Fafes Luz, Rico homem, e Alferes do Conde Dom Henrique, e
que esta Vila, e Freguesia tomaram dele o nome: extinguiu-se não sabemo quando,
e uniu-se ao Mosteiro de São Martinho da Costa, que nele apresenta Cura, com
noventa mil Réis de rende, e para os Frades Jerónimos com sabidos mil cruzados.
Tem esta freguesia cento e cinquenta vizinhos, e nela há excelente pedra para
edifícios.»[3]
O Mosteiro da Costa, ao absorver este mosteiro e
outros, nomeadamente o de Santa Maria de Antime, apropriou-se dos seus bens e
passou a nomear o responsável religioso. Deste modo era atribuição sua receber
as correspondentes contribuições provenientes da população:
«Em 9 de Abril de 1437, Frei Diogo Martins assumiu
as funções de capelão e vigário de Santa Vaia Antiga, na actual Vila de Fafe,
para que tinha sido apresentado pelo prior e todo o convento da Costa. É de
notar que esta igreja estava aforada a Inês Gomes, pesando sobre ela a
obrigação de lhe dar ‘de comer segundo que he contheudo em prazo’.
Por não serem abundantes as notícias sobre o
estipêndio anual recebido pelos clérigos, consideramos oportuno informar que,
além do que Inês Gomes tinha de lhe dar como alimentação, receberia ainda: 30
libras de moeda antiga; 20 teigas de trigo, tiradas ‘do trigo que o dicto
prior e convento aviam d'aver da dicta egreja’; ficando ao seu dispor a
casa maior da dita igreja, cujas reparações necessárias corriam por conta de
Frei Diogo Martins ou Inês Gomes.» [4]
Terá sido fundador do Mosteiro de Santa Eulália e
senhor do solar, D. Fafes (Godins), o Luz, (de Lanhoso) «bom rico homem e
alferes do Conde D. Henrique», filho de D.Godinho Fafes, (de Lanhoso), «o
que edificou Fonte de Arcada, e a coutou» e neto de D. Fafes Serracins, de
Lanhoso « De onde vem os Godinhos que vem do nobilíssimo sangue dos Godos»,
conde e «bom rico homem, e morreu com grão peça de cavaleiros quando lidou
el rey D. Garcia de Portugal com el rey D. Sancho (II) de Castela».
Na descendência dos Fafes, encontramos ainda, no
Livro Antigo de Linhagens, duas personagens ilustres: «(D. Ermígio
Fafes, (de Lanhoso), abade de Refojos de Basto; D. Egas Fafes, (de Lanhoso),
arcediago de Braga em 1245, bispo de Coimbra» (1247-1267) e arcebispo
eleito de Santiago de Compostela (18/12/1267). Este D. Egas Fafes morreu em
Montpellieu, encontrando-se sepultado em túmulo com estátua jacente, na Capela
de Santa Clara, da Sé Velha de Coimbra, que ele mandara construir.
Os cavaleiros e os homens livres da terra de Monte Longo
tinham honra e privilégio de defesa do Castelo e da Vila de Guimarães:
“Privilégio delRey Dom Joaõ o Primeiro, em que
manda que os moradores da Villa de Celorico de Basto, & Monte Longo venhaõ
velar, & guardar a esta Villa, quando for tempo, & necessário no anno
de 1423. está confirmado por ElRey Dom Joaõ Terceiro anno de 1529. & já
d'antes destes Reys o tinha concedido ElRey Dom Diniz, & disto ha sentenças
nom Cartório, & assim as justiças de Guimarães os compelliraõ a isso»[5]
Por outro lado, os túmulos existentes no interior
da Igreja Matriz de Fafe testemunham a sepultura destes cavaleiros laicos ou
religiosos da Baixa Idade Média, como os mais antigos testemunhos de que Fafe
era um local onde residiam Senhores que tutelavam a administração Medieval
local.
O topónimo "Concelho" existente nas
proximidades da Igreja Matriz leva-nos a supor que este sítio corresponderia ao
local físico e simbólico da administração local medieval, sem Domus
Municipalis, que o Foral Novo, concedido por D. Manuel em 1513, prescreve para
o Concelho de Monte Longo.
Estaríamos, assim, perante um território concelhio
constituído por várias freguesias, tendo a de Fafe a preponderância de cabeça
de um Concelho, cujo território se demarcava pelos rios Bugio e Vizela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário