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sábado, 29 de julho de 2017

. . . O PASSADO. . .


O passado não se representa aqui em grandiosos monumentos, mas em materialidades simbólicas sóbrias, dispersas, ameaçadas e algumas desaparecidas.
Olhemos velhos sítios onde estes vestígios nos relembram vivências culturais ignoradas…
Nos montes de São Jorge e da Cumieira, mamoas confirmam a presença de povos muito antigos, ligados a uma primitiva vida agro-pastoril, que fizeram das suas sepulturas os símbolos da perenidade e de engrandecimento da sua existência.
Não deixe de ir ao lugar designado por Monte das Freiras, como topónimo que remete para lendas, como a hipotética existência de um mosteiro feminino que a História não confirma. Contudo, aí encontrará os vestígios de construções, as quais dariam trabalho aos arqueólogos e, a si, uma das melhor das vistas das terras de Monte Longo.
Mais abaixo, uma visita ao Castro de Santo Ovídio oferece-lhe a possibilidade de conhecer um povoado do Séc. I a.C. com demonstrados contactos com os Romanos invasores e que a Unidade de Arquiologia da Universidade de Minho tem como objecto de estudo.
Dos seus habitantes restaram um conjunto de vestígios materiais que se encontram no Museu D. Diogo de Sousa e uma estátua de Guerreiro Luso-Galaico, que aí foi encontrada em 1870, quando se faziam os alicerces da Capela de Santo Ovídio, e que foi adquirida em 1876 pela Sociedade Martins Sarmento, onde ainda hoje se encontra.
Com a apropriação do vale, durante a romanização e Alta Idade Média, surgiram os povoados ribeirinhos, tendo os seus habitantes encontrado refúgio temporário no monte de Castelhão e São Jorge, onde construíram provisórias fortificações em tempo de grande instabilidade administrativa.
Da Baixa Idade Média temos as primeiras e documentadas notícias de mosteiros e senhores que tutelaram o povoamento e administração local: do Mosteiro de Antime de 1120 e de um outro, no lugar da Matriz, fundado por um fidalgo de apelido "Fafez" com solar situado nas proximidades, que foi extinto para se unir ao de Santa Marinha da Costa, passando a ser tutelado por esta entidade religiosa e senhorial.
«Santa Eulália, foi Mosteiro, não alcançamos de que Ordem, entendemos que foi fundado por algum fidalgo dos do apelido Fafez; porque dizem ser este o solar desta família, e que daqui foi senhor Dom Godinho Fafes, filho de Dom Fafes Luz, Rico homem, e Alferes do Conde Dom Henrique, e que esta Vila, e Freguesia tomaram dele o nome: extinguiu-se não sabemo quando, e uniu-se ao Mosteiro de São Martinho da Costa, que nele apresenta Cura, com noventa mil Réis de rende, e para os Frades Jerónimos com sabidos mil cruzados. Tem esta freguesia cento e cinquenta vizinhos, e nela há excelente pedra para edifícios.»[3]
O Mosteiro da Costa, ao absorver este mosteiro e outros, nomeadamente o de Santa Maria de Antime, apropriou-se dos seus bens e passou a nomear o responsável religioso. Deste modo era atribuição sua receber as correspondentes contribuições provenientes da população:
«Em 9 de Abril de 1437, Frei Diogo Martins assumiu as funções de capelão e vigário de Santa Vaia Antiga, na actual Vila de Fafe, para que tinha sido apresentado pelo prior e todo o convento da Costa. É de notar que esta igreja estava aforada a Inês Gomes, pesando sobre ela a obrigação de lhe dar ‘de comer segundo que he contheudo em prazo’.
Por não serem abundantes as notícias sobre o estipêndio anual recebido pelos clérigos, consideramos oportuno informar que, além do que Inês Gomes tinha de lhe dar como alimentação, receberia ainda: 30 libras de moeda antiga; 20 teigas de trigo, tiradas ‘do trigo que o dicto prior e convento aviam d'aver da dicta egreja’; ficando ao seu dispor a casa maior da dita igreja, cujas reparações necessárias corriam por conta de Frei Diogo Martins ou Inês Gomes.» [4]
Terá sido fundador do Mosteiro de Santa Eulália e senhor do solar, D. Fafes (Godins), o Luz, (de Lanhoso) «bom rico homem e alferes do Conde D. Henrique», filho de D.Godinho Fafes, (de Lanhoso), «o que edificou Fonte de Arcada, e a coutou» e neto de D. Fafes Serracins, de Lanhoso « De onde vem os Godinhos que vem do nobilíssimo sangue dos Godos», conde e «bom rico homem, e morreu com grão peça de cavaleiros quando lidou el rey D. Garcia de Portugal com el rey D. Sancho (II) de Castela».
Na descendência dos Fafes, encontramos ainda, no Livro Antigo de Linhagens, duas personagens ilustres: «(D. Ermígio Fafes, (de Lanhoso), abade de Refojos de Basto; D. Egas Fafes, (de Lanhoso), arcediago de Braga em 1245, bispo de Coimbra» (1247-1267) e arcebispo eleito de Santiago de Compostela (18/12/1267). Este D. Egas Fafes morreu em Montpellieu, encontrando-se sepultado em túmulo com estátua jacente, na Capela de Santa Clara, da Sé Velha de Coimbra, que ele mandara construir.
Os cavaleiros e os homens livres da terra de Monte Longo tinham honra e privilégio de defesa do Castelo e da Vila de Guimarães:
“Privilégio delRey Dom Joaõ o Primeiro, em que manda que os moradores da Villa de Celorico de Basto, & Monte Longo venhaõ velar, & guardar a esta Villa, quando for tempo, & necessário no anno de 1423. está confirmado por ElRey Dom Joaõ Terceiro anno de 1529. & já d'antes destes Reys o tinha concedido ElRey Dom Diniz, & disto ha sentenças nom Cartório, & assim as justiças de Guimarães os compelliraõ a isso»[5]
Por outro lado, os túmulos existentes no interior da Igreja Matriz de Fafe testemunham a sepultura destes cavaleiros laicos ou religiosos da Baixa Idade Média, como os mais antigos testemunhos de que Fafe era um local onde residiam Senhores que tutelavam a administração Medieval local.
O topónimo "Concelho" existente nas proximidades da Igreja Matriz leva-nos a supor que este sítio corresponderia ao local físico e simbólico da administração local medieval, sem Domus Municipalis, que o Foral Novo, concedido por D. Manuel em 1513, prescreve para o Concelho de Monte Longo.
Estaríamos, assim, perante um território concelhio constituído por várias freguesias, tendo a de Fafe a preponderância de cabeça de um Concelho, cujo território se demarcava pelos rios Bugio e Vizela.


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