... FILANTRÓPICO...
No contexto da filantropia, são identificáveis, em
Fafe, o Hospital de São José e dois outros imóveis onde funcionaram os asilos
de “Infância Desvalida” e de “Inválidos”, como expressões da acção benemérita
do séc. XIX.
O edifício do Hospital (1860) deve a sua construção
ao financiamento dos “Brasileiros de Torna – Viagem”, sendo uma réplica
arquitectónica de outro, existente no Rio de Janeiro e propriedade da Sociedade
Portuguesa de Beneficência dessa cidade (1853).
A participação pessoal e financeira dos emigrantes
de "Torna - Viagem" na criação das primeiras agremiações de natureza
social, verifica-se também na constituição da Irmandade de São José, datada de 21
de Março de 1862. Nela têm assento como provedores e mordomos, fazendo-se
representar em retratos a óleo de grande formato, o que constitui outra das
expressões de visibilidade simbólica do seu prestígio e estatuto social.
A construção do edifício do Hospital de São José ou
da Misericórdia (iniciada em 1859 e inaugurado em 1863) é produto da estreita
ligação dos ausentes no Brasil com os residentes na Vila de Fafe, surgindo na
cidade do Rio de Janeiro uma comissão de subscritores para angariação de fundos
para a construção do Hospital na terra natal, composta por Bernardo Ribeiro de
Freitas, Luís António Rebelo de Castro, Leonardo Ribeiro de Freitas, Comendador
Albino de Oliveira Guimarães, Comendador José António Vieira de Castro, José
António Martins Guimarães, António Joaquim de Castro, António Joaquim da Silva,
Agostinho Gonçalves Guimarães e António Gomes de Castro, tendo como presidente
o Comendador António Gonçalves Guimarães, comissão essa que conseguiu, numa
primeira subscrição, angariar cinco contos de reis.
Em Fafe, uma outra comissão, constituída por Dr.
Florêncio Ribeiro da Silva, António Leite Lage, José Florêncio Soares, Miguel
António Monteiro de Campos, sendo os três últimos emigrantes de retorno
definitivo bem sucedido, tinha como obrigação edificar o Hospital de Fafe.
A construção dos Asilos de Inválidos de Santo
António e o da Infância Desvalida, foi promovida, respectivamente, por Manuel
Baptista Maia, em 1906 e António Joaquim Vieira Montenegro, também emigrantes
do Brasil, tendo este rico comerciante do Brasil deixado em testamento, de
Janeiro de 1874, 15.300$000 reis, a favor das meninas pobres do concelho e
7.600$000 reis para uma escola de instrução primária em Travassós.
«A irmandade da misericórdia foi instituida a 23 de
março de 1862, mas a primeira pedra do hospital de S. José, que ela administra,
foi lançada a 6 de janeiro de 1859, e em 19 de março de 1863 foi aberta aos
pobres. É um elegante e vasto edifício, em optimas condições.
Foram seus fundadores José Florencio Soares e
outros negociantes d'aqui, estabelecidos no Brazil. Os estatutos, foram feitos
em 23 de março de 1862.
O povo d'aqui também concorreu muito para esta
obra. A sua receita ordinaria é de 829$772 rs. e a extraordinaria de 432$363
rs. A despeza obrigatória é de 776$472 rs, e a facultativa de 379$114.
Ainda são precizos 16 contos de reis para a
conclusão d'este estabelecimento de caridade, que nos primeiros trez annos já
tratou 210 doentes.
Os poderes publicos, longe de subsidiarem e
procurarem o seu desenvolvimento, teem procurado varios meios de o prejudicarem
e embaraçarem. É seu actual provedor (o 1º) o sr. José Florêncio Soares.»
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