. . . RELIGIOSO . . .
A cultura de um povo mistura-se com a sua atitude
religiosa, de tal modo que uma poderá ser vista, através da outra.
No século XVIII, a Igreja de Fafe sofre uma
profunda remodelação, conforme o gosto da época, certamente devido ao ouro do
Brasil, como aconteceu, de resto, em todo o norte do País.
Contam-se ainda na freguesia de Fafe, como
principais referências religiosas do século XVIII, XIX e primeira década do
séc. XX, a Igreja Nova de São José; a capela de Santo Ovídio, situada no
Outeiro do Castro; a capela de São José no lugar de São José; a de São Pedro em
Pardelhas; as capelas particulares do Senhor do Porto, integrada na Casa do
Paço (lugar do Barroco), propriedade de Dona Maria da Luz Bettencourt
Vasconcelos Correia e Ávila, Condessa de Paço Vieira; a capela de Nossa Senhora
do Carmo, integrada na Casa Brasonada do Santo Velho, propriedade de Manuel
Maria de Brito Ferrari de Almeida e seu irmão António Manuel e a capela
particular de São Bento, integrada na Casa Brasonada dos condes de Azevedo,
tendo sido um dos seus últimos proprietários, Estevão Maria de Barbosa Carneiro
de Queiroz de Azevedo e Borbom.
As capelas particulares que apresentam a fachada
principal virada para o exterior e se encontram ajustadas ao corpo do edifício
residencial dos seus proprietários (sinal de que na família tinha havido um
padre e que este prestava serviço religioso também aos não familiares)
encontram-se hoje, na sua maioria, em ruínas ou encerradas ao público.
E dado que, de algum modo, todos os Fafenses
passaram por elas, merecem também uma particular atenção as Alminhas
localizadas nos lugares: Assento, rua Cidade de Guimarães, Bouças, Ranha,
Cumieira.
Estas Alminhas, lugares sagrados de nefastas
passagens, foram outrora templos de orações e crença, repousando agora à margem
dos nossos olhares, ignoradas e esquecidas.
Camilo Castelo Branco, nas Memórias do Cárcere,
faz-nos a descrição desta mesma festividade, acrescentando-lhe aspectos de
natureza social, hoje desaparecidos.
Porque a descrição que ele nos faz é tão peculiar,
transcrevemo-la para que se delicie com ela e conheça melhor esta festividade.
"É de saber que Luis Lopes, António Manuel e
José Vieira, que ainda vive, foram, em anos verdes, três denodados jogadores de
pau, e tamanho terror incutiram nas cercanias de Fafe que bastaria a qualquer
deles, para vencer a sua, mandar o pau e não ir, como o rei da Suécia fazia às
botas.
As mais memorandas façanhas dos Vieiras tinham o
seu teatro na celebrada romaria da Senhora de Antime. Aí apareciam os três
campeadores mascarados, como era de uso em mancebos de famílias de alto porte.
As máscaras afiavam as chanças de outros chibantes, e deste gracejar de mau
agouro procedia o partirem-se as caras por debaixo das máscaras, como se as não
quisessem para outro mister, ou as sacrificassem à padroeira da romagem, como
os índios se estiram sob as rodas das carroças dos seus ídolos.
A Senhora de Antime é de pedra, e pesa com a
charola vinte e quatro arrobas. Os mais possantes moços da freguesia pegam ao
banzo do andor. Aconteceu, há anos, ser um dos que puseram ombro ao andor mal
visto dos outros, e de um principalmente. Ao dobrar de uma esquina o moço
odiado sentiu-se vergar sob as vinte e quatro arrobas de pedra, e morreu
instantaneamente esmagado.
O principal inimigo do morto foi logo conhecido, e
varado por uma choupada, que lhe fez espirrar o sangue e a vida à charola da
imagem. Tirem disto a limpeza de consciência e religiosidade daqueles sujeitos,
que ali vão dar testemunho de seu fervor, com a Senhora de pedra aos ombros!»
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