. . . AS RUAS DA CIDADE . .
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No concelho de Fafe, a freguesia de Santa Eulália
de Fafe reunia condições de edificação de uma urbe, uma vez que se localizava
num local que era já um espaço administrativo, onde se situava a sede de
concelho e por onde se processava passagem de pessoas e mercadoriais do
Interior-Litoral.
Assim, a cidade, no séc.XIX, foi o produto da
afirmação política do liberalismo e das condicionantes económicas, sociais e
políticas, com reflexos na expansão económica verificada na segunda metade do
século.
Simultaneamente, o sucesso dos nossos emigrantes no
Brasil levou-os a edificarem neste local as suas habitações, definindo uma
estrutura urbana de novas ruas e praças, à imagem das que conheceram do outro
lado do Atlântico e que lhes deu a fortuna.
Deste modo, num sítio onde havia uma só rua que
ligava Guimarães a Cavês, os «brasileiros» implantam praças e pracetas,
introduzindo na cidade todas as componentes caracterizadoras da vivência social
burguesa e capitalista.
É assim que a sua Casa, o Clube, o Teatro, o
Passeio Público surgem como símbolos do seu poder e estatuto económico e
social. Ao mesmo tempo, os avultados investimentos que fizeram na aquisição de
quintas e na indústria têxtil confirmam estes burgueses como um novo grupo
social de grande prestígio local.
Paralelamente, por sua exclusiva iniciativa, fazem
inserir no espaço urbano outras representações simbólicas da vivência burguesa
que se afirma através dos actos de filantropia, tais como a construção dos
Asilos de Inválidos, da Infância Desvalida e do Hospital de São José.
Esta atitude surge como uma novo comportamento
social, oposto às tradicionais relações de solidariedade comunitária
tradicional, tipicamente agrária, de onde eram provenientes, e através da qual
os «brasileiros» se distinguem e afirmam como parte de uma nova classe social:
a burguesia.
Simultaneamente, participam na criação das
primeiras agremiações de interesse social, nomeadamente a Irmandade de São
José, administradora do Hospital e Bombeiros Voluntários, bem como dispensam
grandes donativos para a construção da Igreja Nova de São José.
O Clube Fafense e o Cine -Teatro completam, na
época, os elementos de cultura necessários a este grupo social formado por
emigrantes do Brasil, que se destacaram do conjunto da população rural local.
A Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (Fábrica do
Ferro), fundada em 1886 e a Fábrica Têxtil do Bugio, fundada em 1873,
funcionaram como atractivos de população e quadros para a Vila, sendo da sua
iniciativa a construção dos Bairros operários de Antime e de São José, no
conjunto de outras iniciativas de carácter social ligadas aos liberalismo
económico.
A Fábrica Fafense de Gasosas, Refrigerantes e
Laranjadas - Santo Ovídio (c.1918) e a Fábrica de Papel (c.1930), em Cavadas,
corporizaram ainda as iniciativas industriais mais significativas.
Por seu turno, a Praça da Feira Velha adquire,
nesta altura, uma configuração ortogonal e estrutura-se a Praça José Florêncio
Soares, onde vão surgir o Hospital, a Igreja Nova de São José e a Cadeia.
Constrói-se o Jardim Público (1892) e abrem-se as
ruas a ele adjacentes, onde vão surgir edifícios particulares.
A construção do Caminho de Ferro e Estação, em 1907
e a abertura da Rua 5 de Outubro, obrigando à demolição da capela de Santa
Luzia, localizada na entrada da rua, complementam as vias estruturantes da vila
do século XIX, as quais se mantêm até à primeira metade deste século.
A actual Praça 25 de Abril vê surgir, em 1838, o
Cais da Arcada, sendo libertada, em 1912, de um conjunto de edifícios públicos
e particulares aí existentes, desde o século XVIII e inícios do XIX.
Estes imóveis, perturbando a ideia de um espaço
cívico, que se desejava espaçoso e burguês, são demolidos para dar lugar à
actual Praça central de Fafe, construindo-se um novo edifício para a Câmara Municipal
(1913), na Avenida 5 de Outubro.
Nestas ruas, praças e pracetas são implantados os
equipamentos públicos, sociais e culturais necessários à urbe.
A cidade criada pela sua localização de passagem ou
ligação ao interior, adquire uma função turística, em tempo de capitalismo
burguês, com a construção de um elevado número de hotéis e hospedarias.
Nos finais deste século, integradas na política de
desenvolvimento viário designada por Fontismo, foram construídas as pontes
novas de São José, da Ranha e de Golães, desviando os acessos à cidade.
Mas Fafe é, ainda hoje, um local de passagem com
destinos que ligam o litoral à Europa.
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