. . . A PAISAGEM . . .
«Olhe, meu caro, esta boa terra de Fafe é assim:
pão pão, queijo queijo - portugueza de lei, hospitaleira, franca até á rudeza e
capaz também de pôr um bom cacete de cerquinho, a sua justiça d'eles,
onde el-rei não haja posto a sua propria.
E é que a espada vai na burra, e nada por
isso de contrariar a altaneira Fafe. Mas é de simpatizar, não é verdade?
Eu, de mim, quando ao regressar de Basto, em uma
das excursões que fiz pela província, cheguei ao alto da Gandarella e avistei a
larga bacia enflorada de esmeraldas, em que assenta a maior parte do concelho,
paysagem onde a luz ri e a água brinca, tive a comprehensão desta alegria
mascula e saudavel, deparando no valle extenso e nas montanhas rudes com o
aspecto duma natureza, que é ao mesmo tempo uberrina e alegre, forte e
expansiva. Ahí tem o homem explicado pelo meio.»[1]
A freguesia de Fafe situa-se na parte sul do
concelho e ocupa uma área de 624, 49 (ha), para uma população de cerca de 15
000 habitantes, tendo passado pelo titulo de Vila antiga, estatuto de Julgado
em 1835, Vila nova em 1840 e o de Cidade em 1986.
Os Rios Vizela e o Ferro correm aqui, fazendo, em
parte dos seus trajectos, fronteira com as freguesias circunvizinhas. O
primeiro, com as de Fornelos e Golães e o segundo, com as de Quinchães, Antime
e Armil.
O rio Ferro recebe, já na freguesia, as águas da
Ribeira de Ribeiros, da Ribeira de Moreira e da Ribeira das Ínsuas que, com o
Vizela, irrigam alguns campos nos seus percursos ajustados às suas margens
verdes.
As principais elevações existentes na freguesia -
Calvário, 356 m; Castelhão, 360 m; Santo Ovídio, 332 m; São Gemil, 401 m;
Freiras, 427 m; Pardelhas, 420 m; Cumieira, 371 m - constroem um relevo de
baixa altitude, de onde se podem observar as ribeiras e a riqueza da sua
vegetação.
A freguesia de Fafe apresenta os últimos sinais do
rural e agrícola nos lugares de Bouças, Agrela, Pardelhas, Sá e Calvelos onde
existe maior capacidade de rega dos campos, dada a proximidade daqueles
ribeiros.
Aqui se organizaram alguns dos mais antigos conjuntos
agrícolas, que caracterizam o período pré-urbano, tendo resistido, como
ambientes rústicos, quase até aos nossos dias.
Vá e veja ainda sinais de ruralidade às portas da
cidade ou compare-a com uma antiga descrição:
"É bem formosa a estrada de Felgueiras, [...].
Imagine a paysagem iluminada pelo sol de um fresco dia de abril .
Deixe as ultimas casas de Fafe, a estrada desce, as
macieiras em flôr cortam, como um sorriso alegre, o verde escuro dos outeiros,
e o claro esmeralda das campinas.
Ahí tem, sobre uma elevação, a pequenina capella de
São José e logo abaixo, quando a ponte nova salta sobre um affluente do
Vizella, as aguas, que se despenham tremulas, em uma cascata formosa, os
olmeiros subindo ao alto, os penedos cobertos de vegetação similhando ilhotas
em agrupações tão artisticas, que a gente tem vontade de as metter na mala para
adornar com elas a nossa habitação na cidade. "[2]
Procure os lugares rurais da freguesia, começando
por Agrela e reconheça no topónimo Ager ou Agra sinais do que foi
a romanização.
Visite Bouças, Chã de Bouças, Fafoa, Tojal, Fojo,
Crasto, Moínhos da Ponte, Pardelhas, Ponte da Ranha, Calvelos e constatará o
quanto Fafe tem de rural em cada um destes lugares, numa acelerada
transformação urbanizadora.
Descubra os esquecidos lugares que a cidade
integrou, tais como: Devesinha, Cumieira, Corredoura, Assento, Portugal, Ponte
Nova, Santo, São Gemil, Seara, Travessa Nova, Fafe.
O local onde se desenvolveu o actual centro cívico
de Fafe corresponde à encosta de uma pequena elevação transformada nos finais
do século XIX em Jardim Público, assemelhando-se a sua morfologia ao monte de
Santo Ovídio.
A cidade desenvolveu-se na envolvência do outeiro (altarium)
do Calvário e, mais recentemente, nas vertentes do monte do São Jorge, Cumieira
e Castelhão, locais onde existem leves indícios de ocupação primitiva.
A elevação do outeiro do Calvário apresentava, no
declive Este-Oeste, uma paisagem aberta e árida, onde a estêva predominava,
sendo por isso chamada de Vale de Estevas, e actualmente vulgarizada
pela designação de Bal de Estêbo.
Neste lugar existiu uma hospedaria, à qual Camilo
Castelo Branco se referiu, chamando-lhe o botequim da terra, onde os
homens de Fafe jogavam o dominó e a sueca.
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