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sábado, 1 de janeiro de 2022

 

A descendência de Domingos Henriques de Gusmão E O Generoso Legado de Sua Neta, Prudenciana Faustina de São José

 

            Domingos Henriques de Gusmão, várias vezes citado nesta coluna, é considerado como um dos fundadores da nossa cidade. Além disso, segundo tradicionalmente se conta, foi ele quem teria trazido para cá a imagem de São João Nepomuceno, santo de devoção de sua família, para adornar o altar principal da capela precursora da nossa igreja matriz, cerca de dois séculos atrás.

Esse pioneiro de nossa história casou-se com Ana Clara Mendes, filha do Capitão José Manuel Pacheco – um grande fazendeiro estabelecido em terras próximas a Rio Novo – e de sua primeira esposa, Dona Prudenciana Clara Mendes.

Do casamento de Domingos Henriques e Ana Clara, nasceram dez filhos que atingiriam a idade adulta. Foram quatro homens e seis mulheres, a maior parte dos quais veio ao mundo na década de 1820, quando São João ainda estava em seus primeiros anos de existência, e o Brasil vivia seu processo de independência de Portugal.

A respeito dos quatro filhos homens de Domingos, um dado curioso em todos eles é que o “Henriques” era o primeiro de seus respectivos nomes de família, e não o último, como em geral ocorre com o sobrenome paterno.  Isto porque, depois do “Henriques”, vinham outros nomes, que acreditamos terem sido talvez adotados em homenagem a seus respectivos padrinhos de batismo.  Dessa forma, eles se chamavam: (1) José Henriques da Mata, (2) Manuel Henriques Porto Maia, (3) Ezequiel Henriques Pereira Brandão e (4) Domingos Henriques de São Nicácio. E, indo por essa linha, supomos ser muito provável que, por exemplo, o último dos quatro citados tenha sido afilhado de batismo do nosso já conhecido Coronel José Dutra Nicácio, que era vizinho e compadre dos Henriques.

Outra notável característica da prole de Domingos Henriques de Gusmão é que boa parte dela acabou desposando membros de uma única família: os Vieira da Silva Pinto, um influente clã de fazendeiros e políticos procedente de Lagoa Dourada, mas transferido, desde a década de 1840, para a região de Cataguases, localidade que, naquela época, ainda era conhecida como Santa Rita do Meia Pataca.

Esses casamentos entre grupos de irmãos, naturalmente, eram todos arranjados pelas suas respectivas famílias e, às vezes, dois ou mais deles se celebravam num único dia. E, além de possuírem uma motivação econômica, costumavam também se guiar por interesses políticos. No caso dos Henriques são-joanenses e dos Vieira cataguasenses, por exemplo, tratava-se de duas influentes famílias cujos membros, no Império, tendiam a ser destacados militantes do Partido Conservador na Zona da Mata mineira.

Dessa forma, nada menos do que duas filhas e dois filhos de Domingos Henriques e Ana Clara casaram-se com dois filhos e duas filhas do Coronel Francisco Soares Valente e de Francisca Vieira da Silva Pinto. Esta última, por sua vez, era irmã do Major Joaquim Vieira, um dos maiores chefes políticos cataguasenses do século 19, além de também ter sido irmã de Antônia Vieira da Silva Pinto, que foi a segunda das três esposas do Coronel José Dutra Nicácio. Já seu marido, o Coronel Francisco Soares Valente, era um abastado fazendeiro em  nossa região. O grande genealogista Artur Vieira de Resende, que era aparentado com toda essa gente, dá este último como natural do estado de São Paulo, muito embora, em nossas pesquisas genealógicas, tenhamos encontrado fortes indícios de que a família de Francisco Valente, na verdade, era originária de Piranga, uma antiga freguesia no centro de Minas Gerais.

Independentemente dessas controvérsias, sabe-se que um dos filhos do Coronel Francisco Soares Valente e de sua esposa foi José Soares Valente Vieira. Este último se mudaria para São João e, em 1881, receberia de Dom Pedro II a comenda da Ordem da Rosa, conforme já comentamos nesta coluna. Passaria a ser assim, o “Comendador José Soares”, e daria seu nome ao logradouro de SJN que também é conhecido como a Rua Nova.

José Soares desposaria Ana Soares Henriques, uma das seis filhas de Domingos Henriques de Gusmão. Depois, ficou viúvo, para então se casar em segundas núpcias com Prudenciana Faustina de São José. Esta última, por sua vez, era filha de Domingos Henriques de São Nicácio e, portanto, neta paterna de Domingos Henriques de Gusmão. E muito provavelmente foi batizada em homenagem à sua respectiva bisavó, a já comentada Prudenciana Clara Mendes.

Já um irmão de Prudenciana Faustina também se chamava Domingos, como o pai e o avô. Na verdade, tinha o mesmo nome deste último, que também foi seu padrinho de batismo: Domingos Henriques de Gusmão (Neto). Porém, em família, todos o tratavam por “Mingote”, enquanto que sua irmã Prudenciana era a “Saçana”.

Domingos Neto acabou se estabelecendo em terras ao sul de São João Nepomuceno. Tornou-se cafeicultor e acionista da Estrada de Ferro União Mineira. Pouco tempo depois da chegada do trem a São João, junto com alguns outros fazendeiros seus vizinhos, ele também participou de um bem-sucedido empreendimento para que a linha férrea vinda de Bicas inaugurasse uma nova parada próximo à área de suas fazendas, pouco antes de Roça Grande. E assim surgiria a estação ferroviária e depois a cidade de Rochedo de Minas.

Mingote casou-se duas vezes, e em ambas, suas esposas também eram suas parentas próximas. A segunda delas chamava-se Francisca Emiliana Soares e era, de fato, sua prima em primeiro grau, visto ter sido filha de Ezequiel Henriques Pereira Brandão, outro dos quatro filhos varões do velho Domingos.

Algum tempo depois de casado, Mingote resolveu construir uma casa maior, para abrigar sua numerosa e crescente família, que, só do segundo matrimônio, seria composta de quinze filhos, dos quais a caçula de todos, Yone Henriques de Gusmão, é a avó paterna deste autor. Minha avó Yone uma vez me contou que seu pai, sem muitos recursos para construir sua casa, obteve então um dinheiro emprestado com sua irmã Prudenciana, a qual, diga-se de passagem, era conhecida em São João como uma “capitalista”, por ter o costume de emprestar dinheiro numa época em que ainda não havia por aqui as agências bancárias.

Tempos depois, e após uma boa safra de café, Mingote conseguiu o dinheiro para saldar a dívida com sua irmã. Procurou-a com esse intuito, mas, para sua surpresa, Saçana recusou-se a receber um vintém sequer do que lhe era devido. E falou então para o irmão que guardasse aquele dinheiro consigo, dizendo-lhe que ele precisava criar os seus filhos…

Além disso, essa neta de Domingos Henriques de Gusmão também doou para nossa cidade o terreno para a construção da escola normal que levaria o seu nome. E a ela igualmente se atribui a doação do relógio da nossa igreja matriz. O que mostra que Dona Prudenciana, além de generosa para com sua família, também costumava sê-lo para com sua cidade…

 



     
Acima, veem-se representantes de quatro sucessivas gerações dos Henriques, uma das famílias pioneiras de São João Nepomuceno. Da esquerda para a direita, estão: (1) Domingos Henriques de Gusmão, um dos fundadores da Cidade Garbosa; (2) um de seus filhos, Ezequiel Henriques Pereira Brandão; (3) uma de suas netas, Prudenciana Faustina de São José, filha de seu outro filho, Domingos Henriques de São Nicácio e (4) uma de suas bisnetas, Yone Henriques de Gusmão, que era sobrinha de Dona Prudenciana e neta tanto de Ezequiel quanto de Domingos de São Nicácio, e também avó paterna deste autor. O pai de Yone (e um dos irmãos de Prudenciana) chamava-se Domingos Henriques de Gusmão (Neto) e foi um dos fundadores de Rochedo de Minas no final do século 19, cidade que, curiosamente, e ao contrário de quase todas as outras da Zona da Mata mineira, não recebeu nome de santo ao surgir. Isto porque, diferentemente da maioria de outros municípios de nossa região, Rochedo não se desenvolveu a partir de uma capela, mas sim em torno da sua estação ferroviária (abaixo, à esquerda, numa foto de Jorge A. Ferreira Jr.), lá construída devido à ação de Domingos Neto e outros fazendeiros daquelas redondezas. Na mesma linha, à direita, vê-se a casa da fazenda deste último nas proximidades de Rochedo, onde nasceram vários de seus filhos, inclusive Yone. Esta residência, por sua vez, foi por ele construída graças a um empréstimo obtido com sua irmã, Prudenciana, a qual, depois, recusar-se-ia a receber a quantia de volta.

ROCHEDO ESTACAO DE E FAZENDA DA UNIAO

 

A seguir, dois outros testemunhos da generosidade desta benemérita cidadã são-joanense: o relógio da igreja matriz de São João Nepomuceno (à esquerda, numa fotografia de Marcus Martins), e a escola normal que levava o seu nome, e onde também funcionava o Ginásio São Salvador (à direita, numa foto do italiano Roberto Capri tirada em 1916).

 

MATRIZ E ESCOLA NORMAL

 

Fonte:

https://sjnhistoria.wordpress.com/2019/06/07/a-descendencia-de-domingos-henriques-de-gusmao-e-o-generoso-legado-de-sua-neta-prudenciana-faustina-de-sao-jose/comment-page-1/#comment-1331

ou 

Texto de Luis Pontes – publicado no Jornal Voz de São João Nepomuceno em 01/10/2016

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