A
descendência de Domingos Henriques de Gusmão E O Generoso Legado de Sua Neta,
Prudenciana Faustina de São José
Domingos Henriques de Gusmão, várias
vezes citado nesta coluna, é considerado como um dos fundadores da nossa
cidade. Além disso, segundo tradicionalmente se conta, foi ele quem teria
trazido para cá a imagem de São João Nepomuceno, santo de devoção de sua
família, para adornar o altar principal da capela precursora da nossa igreja
matriz, cerca de dois séculos atrás.
Esse pioneiro de nossa história casou-se com Ana Clara
Mendes, filha do Capitão José Manuel Pacheco – um grande fazendeiro
estabelecido em terras próximas a Rio Novo – e de sua primeira esposa, Dona
Prudenciana Clara Mendes.
Do casamento de Domingos Henriques e Ana Clara, nasceram
dez filhos que atingiriam a idade adulta. Foram quatro homens e seis mulheres,
a maior parte dos quais veio ao mundo na década de 1820, quando São João ainda
estava em seus primeiros anos de existência, e o Brasil vivia seu processo de
independência de Portugal.
A respeito dos quatro filhos homens de Domingos, um dado
curioso em todos eles é que o “Henriques” era o primeiro de seus respectivos
nomes de família, e não o último, como em geral ocorre com o sobrenome
paterno. Isto porque, depois do “Henriques”,
vinham outros nomes, que acreditamos terem sido talvez adotados em homenagem a
seus respectivos padrinhos de batismo.
Dessa forma, eles se chamavam: (1) José Henriques da Mata, (2) Manuel
Henriques Porto Maia, (3) Ezequiel Henriques Pereira Brandão e (4) Domingos
Henriques de São Nicácio. E, indo por essa linha, supomos ser muito provável
que, por exemplo, o último dos quatro citados tenha sido afilhado de batismo do
nosso já conhecido Coronel José Dutra Nicácio, que era vizinho e compadre dos
Henriques.
Outra notável característica da prole de Domingos Henriques
de Gusmão é que boa parte dela acabou desposando membros de uma única família:
os Vieira da Silva Pinto, um influente clã de fazendeiros e políticos
procedente de Lagoa Dourada, mas transferido, desde a década de 1840, para a
região de Cataguases, localidade que, naquela época, ainda era conhecida como
Santa Rita do Meia Pataca.
Esses casamentos entre grupos de irmãos, naturalmente, eram
todos arranjados pelas suas respectivas famílias e, às vezes, dois ou mais
deles se celebravam num único dia. E, além de possuírem uma motivação
econômica, costumavam também se guiar por interesses políticos. No caso dos
Henriques são-joanenses e dos Vieira cataguasenses, por exemplo, tratava-se de
duas influentes famílias cujos membros, no Império, tendiam a ser destacados
militantes do Partido Conservador na Zona da Mata mineira.
Dessa forma, nada menos do que duas filhas e dois filhos de
Domingos Henriques e Ana Clara casaram-se com dois filhos e duas filhas do
Coronel Francisco Soares Valente e de Francisca Vieira da Silva Pinto. Esta
última, por sua vez, era irmã do Major Joaquim Vieira, um dos maiores chefes
políticos cataguasenses do século 19, além de também ter sido irmã de Antônia
Vieira da Silva Pinto, que foi a segunda das três esposas do Coronel José Dutra
Nicácio. Já seu marido, o Coronel Francisco Soares Valente, era um abastado
fazendeiro em nossa região. O grande
genealogista Artur Vieira de Resende, que era aparentado com toda essa gente,
dá este último como natural do estado de São Paulo, muito embora, em nossas
pesquisas genealógicas, tenhamos encontrado fortes indícios de que a família de
Francisco Valente, na verdade, era originária de Piranga, uma antiga freguesia
no centro de Minas Gerais.
Independentemente dessas controvérsias, sabe-se que um dos
filhos do Coronel Francisco Soares Valente e de sua esposa foi José Soares
Valente Vieira. Este último se mudaria para São João e, em 1881, receberia de
Dom Pedro II a comenda da Ordem da Rosa, conforme já comentamos nesta coluna.
Passaria a ser assim, o “Comendador José Soares”, e daria seu nome ao
logradouro de SJN que também é conhecido como a Rua Nova.
José Soares desposaria Ana Soares Henriques, uma das seis
filhas de Domingos Henriques de Gusmão. Depois, ficou viúvo, para então se
casar em segundas núpcias com Prudenciana Faustina de São José. Esta última,
por sua vez, era filha de Domingos Henriques de São Nicácio e, portanto, neta
paterna de Domingos Henriques de Gusmão. E muito provavelmente foi batizada em
homenagem à sua respectiva bisavó, a já comentada Prudenciana Clara Mendes.
Já um irmão de Prudenciana Faustina também se chamava
Domingos, como o pai e o avô. Na verdade, tinha o mesmo nome deste último, que
também foi seu padrinho de batismo: Domingos Henriques de Gusmão (Neto). Porém,
em família, todos o tratavam por “Mingote”, enquanto que sua irmã Prudenciana
era a “Saçana”.
Domingos Neto acabou se estabelecendo em terras ao sul de
São João Nepomuceno. Tornou-se cafeicultor e acionista da Estrada de Ferro
União Mineira. Pouco tempo depois da chegada do trem a São João, junto com
alguns outros fazendeiros seus vizinhos, ele também participou de um
bem-sucedido empreendimento para que a linha férrea vinda de Bicas inaugurasse
uma nova parada próximo à área de suas fazendas, pouco antes de Roça Grande. E
assim surgiria a estação ferroviária e depois a cidade de Rochedo de Minas.
Mingote casou-se duas vezes, e em ambas, suas esposas
também eram suas parentas próximas. A segunda delas chamava-se Francisca
Emiliana Soares e era, de fato, sua prima em primeiro grau, visto ter sido
filha de Ezequiel Henriques Pereira Brandão, outro dos quatro filhos varões do
velho Domingos.
Algum tempo depois de casado, Mingote resolveu construir
uma casa maior, para abrigar sua numerosa e crescente família, que, só do
segundo matrimônio, seria composta de quinze filhos, dos quais a caçula de
todos, Yone Henriques de Gusmão, é a avó paterna deste autor. Minha avó Yone
uma vez me contou que seu pai, sem muitos recursos para construir sua casa,
obteve então um dinheiro emprestado com sua irmã Prudenciana, a qual, diga-se
de passagem, era conhecida em São João como uma “capitalista”, por ter o
costume de emprestar dinheiro numa época em que ainda não havia por aqui as
agências bancárias.
Tempos depois, e após uma boa safra de café, Mingote
conseguiu o dinheiro para saldar a dívida com sua irmã. Procurou-a com esse
intuito, mas, para sua surpresa, Saçana recusou-se a receber um vintém sequer
do que lhe era devido. E falou então para o irmão que guardasse aquele dinheiro
consigo, dizendo-lhe que ele precisava criar os seus filhos…
Além disso, essa neta de Domingos Henriques de Gusmão
também doou para nossa cidade o terreno para a construção da escola normal que
levaria o seu nome. E a ela igualmente se atribui a doação do relógio da nossa
igreja matriz. O que mostra que Dona Prudenciana, além de generosa para com sua
família, também costumava sê-lo para com sua cidade…
ROCHEDO ESTACAO DE E FAZENDA DA UNIAO
A seguir, dois outros testemunhos da generosidade desta
benemérita cidadã são-joanense: o relógio da igreja matriz de São João
Nepomuceno (à esquerda, numa fotografia de Marcus Martins), e a escola normal
que levava o seu nome, e onde também funcionava o Ginásio São Salvador (à
direita, numa foto do italiano Roberto Capri tirada em 1916).
MATRIZ E ESCOLA NORMAL
Fonte:
https://sjnhistoria.wordpress.com/2019/06/07/a-descendencia-de-domingos-henriques-de-gusmao-e-o-generoso-legado-de-sua-neta-prudenciana-faustina-de-sao-jose/comment-page-1/#comment-1331
ou
Texto de Luis Pontes –
publicado no Jornal Voz de São João Nepomuceno em 01/10/2016
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